Ciência IDOR contra a Covid-19 participa de descoberta que pode contribuir em tratamentos futuros para pacientes com casos graves da doença.
Um novo estudo esclarece o processo pelo qual muitos pacientes com Covid-19 apresentam hipercoagulação e eventos trombóticos, principalmente nos quadros clínicos mais graves. A pesquisa foi recém publicada na Blood, principal revista científica na área de hematologia, e foi fruto da colaboração entre o Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), Rede D’Or São Luiz (RDSL), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer e Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). O estudo é também resultado da busca por preditores de gravidade da doença em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), foco de uma das 10 linhas de pesquisa apresentadas pela iniciativa Ciência IDOR contra a Covid-19.
Desde o início da pandemia, problemas relacionados à hipercoagulação foram registrados por diversos relatos clínicos, principalmente nas análises dos quadros mais severos da Covid-19. Em alguns casos, a formação de trombos – coagulação de sangue no interior dos vasos – interrompe a circulação sanguínea, resultando em complicações como o acidente vascular cerebral (AVC), embolia pulmonar e infarto do miocárdio, que podem levar à morte.
Buscando entender a correlação entre a gravidade da doença e a alteração no padrão coagulátorio de pacientes com Covid-19, os pesquisadores compararam amostras de sangue e do trato de respiratório de pacientes com casos graves, leves e assintomáticos da infecção pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2). Os participantes foram recrutados no Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer e no Hospital Copa Star, da RDSL. Os resultados foram contrapostos a amostras de pacientes não infectados, grupo que serviu como controle do estudo.
A análise revelou que as respostas tromboinflamatórias durante a Covid-19 estão diretamente ligadas à ativação de plaquetas no sangue, cenário que foi observado apenas nos pacientes com Covid-19 grave, principalmente aqueles que estavam em ventilação mecânica ou nos casos que resultaram em óbito. Em laboratório, os cientistas observaram que o aumento da atividade plaquetária também causava forte agregação entre as plaquetas e um tipo de célula responsável pela defesa do organismo, os monócitos. Essa junção faz com que estas células liberem o chamado fator tecidual, processo que desencadeia a coagulação e formação de trombos nos vasos sanguíneos.
Em outras pesquisas, a mesma equipe de cientistas já havia observado que a ativação plaquetária e sua interação com leucócitos – células de defesa entre as quais se incluem os monócitos – também são características de infecções virais como a da dengue, HIV e influenza. No caso da Covid-19, os pesquisadores conseguiram identificar as duas principais moléculas que atuam no processo de adesão entre plaquetas e monócitos: as moléculas CD62P e αIIb/β3. No entanto, ainda não é possível afirmar se a disfunção plaquetária é originada pela infecção pelo Sars-Cov-2 ou se é resultado de uma resposta inflamatória do organismo, outra característica que é potencializada em casos graves da doença.
Para o Dr. Fernando Bozza, pesquisador do IDOR e da Fiocruz e um dos autores do estudo, estas descobertas inéditas podem ajudar na identificação e aplicação de novas terapias para pacientes graves, conquista que só pôde ser alcançada pela união multi-institucional no combate à pandemia. “É a primeira vez que uma pesquisa revela o papel das plaquetas na coagulação característica da Covid-19. Este estudo só foi possível porque unimos pesquisadores básicos e clínicos de diversas instituições, o que enriquece e acelera o processo científico. Sabendo por que os casos grave da doença apresentam um maior risco de trombose, é possível direcionar de melhor forma os tratamentos futuros”, declara.
Escrito por Maria Eduarda Ledo.
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