Escrito por Roberto Lent
Professor Emérito da UFRJ e Pesquisador do Instituto D’Or
Pandemias assolam a humanidade há séculos. Ficaram famosas a Peste Negra, no século 14, e a Gripe Espanhola, no século 20. Milhões morreram, por falta de meios para frear essas catástrofes sanitárias.
Hoje tudo mudou. A Ciência se tornou um recurso essencial para a vida humana, e orienta as mais eficazes iniciativas de contenção e mitigação das epidemias. Ficou comprovado que um dos meios de reduzir a velocidade de transmissão de vírus letais como o coronavírus é o isolamento social. Mal menor, porque ele também traz problemas, principalmente sobre a saúde mental. É preciso estudar esse aspecto, para encontrar os meios de controlá-lo.
Várias experiências de isolamento humano têm sido estudadas: o inverno polar, por exemplo, pode atingir o equilíbrio emocional dos pesquisadores e militares residentes naquelas lonjuras congeladas. Outras situações extremas têm sido objeto de estudo por psicólogos e psiquiatras: estações espaciais, submarinos, prisões, e até UTIs.
As epidemias virais, já incluindo a Covid-19, foram avaliadas nesse aspecto por recente trabalho de revisão bibliográfica publicado por um grupo de pesquisadores ingleses. Foram muitos os efeitos identificados: psicológicos (depressão, estresse, transtornos do sono), corporais (obesidade, dores, baixa imunidade), e sociais (assédio e violência), para citar apenas alguns.
O grupo identificou os principais agentes estressores: longa duração da quarentena, falta de informação, medo de infecção, tédio, perda de renda, fome e, não bastasse isso tudo, o temor de ter sido infectado. Alguns trabalhos analisados relataram sintomas persistentes que potencialmente evoluiriam para ansiedade, transtornos de estresse pós-traumático e pânico.
Um outro grupo de pesquisa, trabalhando na China nos últimos meses, inquiriu mais de 1200 pessoas em quase 200 cidades, 85% das quais com 20-24 horas por dia em casa. 75% relataram enorme medo de infectar seus familiares. Pouco mais da metade apresentou sintomas de impacto psicológico moderado a severo, quase 30% apresentaram ansiedade e cerca de 20%, depressão. Sintomas físicos também foram detectados: dores musculares, tonteira, dor de garganta.
As recomendações emanadas desses trabalhos foram simples e intuitivas. A primeira: aumentar a percepção individual de controle sobre o risco, por meio de frequente higiene das mãos, proteção da boca e do nariz com o braço ao espirrar ou tossir, e uso de máscaras. A segunda: fortalecer o capital social da população isolada (confiança na sociedade), por meio do constante
O professor e neurocientista Roberto Lent é pesquisador do IDOR, docente emérito da UFRJ e colunista do editorial Hora da Ciência no Globo. Esta matéria foi publicada no veículo impresso e online em 9/4/2020. Confira clicando aqui.
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