Os autores acreditam que os princípios fundamentais de simplicidade e objetividade são essenciais e devem permanecer como um parâmetro durante a atualização, e que a implementação de um número limitado de variáveis objetivas facilmente obtidas em todas as instituições de saúde seria o ideal para o que seria o suposto “SOFA 2.0”. Alguns sistemas, como o cardiovascular e o respiratório, podem, contudo, ter mudanças mais consideráveis no escore.
Perspectivas de atualização para o SOFA
Segundo o artigo, manter a bilirrubina como um marcador para avaliação da função hepática no SOFA segue uma decisão relevante para a prática clínica, pois é uma medida confiável e amplamente disponível em muitos contextos clínicos.
As variáveis escolhidas para avaliar a função cardiovascular também devem ser mantidas como independentes das terapias administradas. Contudo, considerando os avanços na terapia cardiovascular, a atualização do SOFA deveria contemplar a inclusão de novos vasopressores e agentes inotrópicos. Também seria relevante a incorporação de técnicas avançadas de suporte cardiovascular no SOFA, como oxigenação por membrana extracorpórea venoarterial (VA-ECMO), dispositivos de assistência cardíaca, ou outros sistemas de suporte.
Respeitando os fundamentos do SOFA, os autores ressaltam que a inclusão desses novos elementos deveria ocorrer sem tornar o escore excessivamente complexo. Ademais, poderiam ser acrescentados biomarcadores adicionais, como a concentração de lactato sanguíneo. A monitorização do lactato pode ser uma maneira eficaz de avaliar a resposta ao tratamento inicial, embora sua inclusão exija uma avaliação prospectiva de utilidade.
Os autores comentam que a modernização do SOFA no contexto pulmonar deve equilibrar a tradição e a inovação, mantendo sua simplicidade essencial, enquanto lança mão de elementos que refletem com precisão as práticas contemporâneas da terapia intensiva respiratória.
Uma monitorização menos invasiva poderia ocorrer com a substituição da mensuração da PaO2 por análise de gás sanguíneo pela SpO2 obtida através da oximetria de pulso. Entretanto, é crucial reconhecer que a SpO2 pode ser sujeita a viés e requererá considerações matemáticas adicionais para ser incluída como alternativa de avaliação da oxigenação, o que pode interferir em sua aplicabilidade.
A inclusão de novos métodos de suporte respiratório, como terapia de oxigênio de alto fluxo (HFOT), ventilação mecânica não invasiva e oxigenação por membrana extracorpórea venovenosa (VV-ECMO) também pode ser interessante, assim como a expansão dos critérios utilizados para a avaliação da disfunção respiratória.
Dada a complexidade na interpretação da Glasgow Coma Scale (GCS) em pacientes sob sedação, pode ser necessário considerar abordagens alternativas, como o uso do GCS assumido, levando em conta o estado de sedação. No entanto, isso deve ser ponderado em relação às limitações e à crescente automação na coleta de dados.
Conclusões
Embora a inclusão de outros sistemas orgânicos, como gastrointestinal, metabólico ou imunológico seja considerada no artigo, os autores reconhecem a simplicidade do escore SOFA como uma característica-chave, que permanece relevante na descrição objetiva de padrões de disfunção orgânica.
No entanto, o cenário em evolução da terapia intensiva exige uma reavaliação, levando à proposta de um SOFA 2.0 que modernize o escore. O artigo aponta que, antes que qualquer substituição do escore SOFA original possa ser considerada, ainda é necessária uma exploração orientada por dados, construção de consenso e validação dessas mudanças, mantendo o compromisso de garantir a simplicidade do escore enquanto reflete as práticas contemporâneas em ambientes de cuidados intensivos.
Escrito por Maria Eduarda Ledo de Abreu.
Ilustração: Storyset