Buscando entender o quanto a eficiência de uma UTI em situações normais impactaria no resultado dos tratamentos durante pandemia, o estudo realizou uma análise retrospectiva dos dados de 33 hospitais do sistema privado no país, levando em consideração os pacientes adultos admitidos em suas UTIs entre janeiro de 2018 e dezembro de 2021. Os dados foram obtidos através de um software desenvolvido pela Epimed Solutions, que coleta prospectivamente informações padronizadas de todas as UTIs envolvidas.
A partir do banco de dados, o desempenho das UTIs foi medido antes e durante a pandemia através de duas métricas, uma que levava em consideração a taxa de mortalidade dos pacientes e outra que avaliava a gestão de recursos nos centros de tratamento intensivo, de forma que as UTIs que pontuaram bem nas duas vertentes foram consideradas centros de alta eficiência. As métricas também foram ajustadas de acordo com a gravidade da doença e a idade, sexo e comorbidades dos pacientes analisados, características que impactavam diretamente no desfecho clínico da covid-19.
Dos 386.528 pacientes incluídos na análise, 35,619 foram admitidos em UTIs com diagnóstico covid-19 durante a pandemia. O perfil mediano dos pacientes com a doença variou de 53 a 70 anos, sendo a maioria do sexo masculino, e 64,7% dos internados apresentavam uma ou mais comorbidades.
Durante a pandemia, o estudo observou uma variação altamente significativa nas taxas de mortalidade para pacientes com covid-19. As UTIs mostraram um intervalo impressionante de variações, que iam de 3,6% a 63,2%. Essas taxas de mortalidade também apresentaram variabilidade dentro das UTIs ao longo do tempo, refletindo a dinâmica da pandemia.
Os resultados do estudo apontam que as UTIs com melhor desempenho antes da pandemia também obtiveram resultados mais favoráveis durante a crise sanitária, incluindo menor risco e menor variação nas taxas de mortalidade, além de uma recuperação mais rápida após os picos de casos. Essa estabilidade se manteve mesmo considerando as comorbidades dos pacientes e a gravidade da doença, sugerindo que a eficiência das UTIs antes da pandemia esteve associada a melhores resultados durante a pandemia.
A pesquisa evidencia que ser capaz de fazer boa gestão dos pacientes fora de uma pandemia melhora não somente os resultados gerais, mas serve de preparação para o enfrentamento de uma crise mundial de saúde pública. A preparação adequada, a melhoria contínua de sua eficiência e a resiliência das UTIs em situações de estresse e alta demanda assistencial são aspectos essenciais para fornecer atendimento de alta qualidade e salvar vidas.
O Dr. Jorge Salluh, pesquisador de medicina intensiva no IDOR e coordenador do estudo, comenta que os resultados do estudo não são relevantes apenas para o enfretamento de futuras pandemias, como para o estabelecimento de um padrão de funcionamento para as UTIs. “Independentemente de pandemias, as UTIs já enfrentam cotidianamente momentos de maior estresse e ocupação de leitos, e uma gestão eficiente é um benefício constante para os profissionais de saúde e seus pacientes. Embora parte importante do risco de mortes esteja relacionado à gravidade da doença e à fragilidade dos pacientes, nosso estudo revela que o processo de organização e gestão da UTI tem impacto direto nos desfechos clínicos. E essa informação é a mais relevante, pois diz respeito a algo que podemos controlar dentro do ambiente hospitalar.”
Este estudo é, além de um alerta para o enfretamento de adversidades sanitárias futuras, uma contribuição extremamente valiosa para a funcionalidade dos sistemas de saúde, destacando que otimizar a eficiência das UTIs é uma estratégia crucial, tanto para o atendimento regular dos pacientes críticos quanto para a preparação de desafios similares à pandemia de covid-19.
Escrito por Maria Eduarda Ledo de Abreu.