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Adaptação cultural de intervenções comportamentais na área da saúde prometem resultados mais eficazes para a população

Adaptação cultural de intervenções comportamentais na área da saúde prometem resultados mais eficazes para a população

Envolvimento comunitário é chave para a elaboração de projetos com foco na melhoria da qualidade de vida através de mudanças de hábitos e mentalidades de grupos sociais

 

Intervenções comportamentais são estratégias desenvolvidas para ajudar as pessoas a mudarem seus comportamentos de uma maneira positiva para si mesmas e para a comunidade. Esses comportamentos podem estar relacionados a vários temas, como saúde, cidadania, ecologia, entre outros. Essas intervenções podem ser aplicadas tanto de forma individual, como alguém que busca um psicólogo para tentar parar de fumar, por exemplo; ou de maneira coletiva, como quando ONGs e instituições públicas investem em campanhas antitabagistas ou de conscientização sobre os riscos de dirigir sob efeito do álcool.

Descobrir como adaptar intervenções comportamentais para diferentes culturas é essencial para alcançar o sucesso em programas de saúde e bem-estar em todo o mundo. Um estudo recente, realizado pelo Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) e universidades de outros quatro países, destaca a importância de compreender o papel da adaptação cultural em intervenções comportamentais voltados para a população. O estudo foi publicado na revista Clinical Psychology Review, e oferece guias valiosos sobre como incorporar a psicologia cultural na concepção e implementação de intervenções comportamentais.

O papel das intervenções comportamentais na sociedade

A partir da segunda metade do século XX, passamos a encarar uma progressiva conscientização acerca das consequências dos hábitos e comportamentos humanos na saúde pública, no meio ambiente e até na economia das nações. Embora muitos estudos sejam desenvolvidos com o intuito de amenizar essas consequências, uma das formas mais eficazes de controlar esses cenários é apostar em intervenções comportamentais na população, desencadeando mudanças estruturais capazes de evitar os resultados indesejados.

Embora a psicologia comportamental possa entregar soluções efetivas para problemas como esses, a aplicação de intervenções focadas na mudança de hábitos e mentalidade da população é extremamente desafiadora, especialmente considerando nuances culturais em diferentes países, condições econômicas e faixas etárias. Foi levando isso em consideração que os pesquisadores do estudo decidiram apontar facilitadores para a adaptação de intervenções comportamentais baseadas na psicologia cultural.

Intervenções culturais na literatura científica

Para realizar a pesquisa, os cientistas avaliaram 627 artigos científicos relacionados à adaptação cultural de intervenções comportamentais, incluindo 25 revisões quantitativas ou meta-análises que incluíam análises estatísticas de adaptações culturais na última década.

Os principais focos encontrados nessas revisões foram em saúde mental ou psicopatologia, intervenções parentais, uso de substâncias e prevenção do HIV. Os cientistas explicam que a cultura pode ser definida como informação ou significado compartilhado dentro de uma comunidade e transmitido de uma geração para a próxima, e possui elementos psicologicamente relevantes como crenças, atitudes, normas e valores.

Segundo observado pelos autores, a adaptação cultural pode gerar intervenções mais eficazes, seguras e possivelmente mais econômicas, porém há uma falta de conhecimento sobre as etapas e processos específicos de como adaptar uma intervenção para locais culturalmente distintos.

O psicólogo e pesquisador do IDOR, Dr. Ronald Fischer, destaca que a maioria das intervenções do tipo são desenvolvidas nos EUA, Europa e Austrália, e quando são aplicadas em outros lugares sem pensar nas matrizes culturais e sociais isso pode modificar a eficácia da intervenção e até causar danos por incompatibilidade. “É essencial pensar como adaptar cada intervenção de melhor forma para cada novo contexto”, comenta.

Chave para o Sucesso: Engajamento Comunitário

O engajamento comunitário ao longo de todo o ciclo de adaptação das intervenções se mostrou a chave para o sucesso. Tanto teoricamente quanto nas aplicações desses projetos, a implementação, eficácia e sustentabilidade das intervenções só se mantiveram além das fases iniciais de pesquisa quando contaram com uma colaboração comunitária completa dentro das comunidades. Uma forma de alcançar essa inclusão comunitária no processo, de acordo com os autores, seria incluir representantes do grupo alvo envolvidos em todas as etapas de elaboração da intervenção, assim como em sua aplicação e acompanhamento.

Intervenções culturais na área da saúde mental

Como observamos, os temas mais explorados nos estudos mencionados revelam que a área da saúde é a mais propensa a ser alvo de intervenções comportamentais. O primeiro autor do estudo publicado, Dr. Ronald Fischer, psicólogo e cientista comportamental do IDOR, também liderou recentemente outro projeto com enfoque em intervenções comportamentais na saúde.

Conduzindo a criação de uma plataforma online e gratuita de autoconhecimento, a Jornada de Autoconhecimento, o pesquisador explica que o objetivo da iniciativa é oferecer informações personalizadas de saúde mental baseando-se em questionários que estimulam os indivíduos a saberem mais sobre si mesmos e sobre suas tendências de saúde mental.

“O contexto brasileiro é marcado por uma grande necessidade de ajuda profissional para atender a problemas de saúde mental. Ao mesmo tempo, muitas pessoas não sabem se os problemas que estão enfrentando são mais controláveis ou demandam uma ajuda mais especializada. Por isso disponibilizamos informações, vídeos com atividades que podem ser feitos seguramente em casa e opções de autoavaliação com feedback personalizado de uma forma gratuita no site. Todas as informações, testes e atividades mostram evidências científicas e foram adaptadas rigorosamente para melhor atender às demandas dos brasileiros. Desta forma queremos oferecer um serviço e informações de qualidade para ajudar os brasileiros lidar com questões da saúde mental e o humor”, detalha o cientista.

Além de contribuir para o autoconhecimento dos indivíduos, passo importante para o desenvolvimento da saúde mental, a plataforma também utiliza os dados consentidos pela população brasileira para basear novos estudos personalizados e adaptados para a cultura e padrões locais.

O projeto é a segunda plataforma de intervenções comportamentais em saúde mental, sendo a primeira o Portal IDOR de Saúde Mental, uma página gratuita com diversos vídeos planejados e apresentados por profissionais de saúde do IDOR, cujo objetivo é ensinar à população técnicas de eficácia científica comprovada que auxiliam no controle de sintomas de ansiedade e depressão.

Escrito por Maria Eduarda Ledo de Abreu.

18.06.2024

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