Nesta pesquisa foram incluídas 29 UTIPs (13 públicas e 16 privadas) em diversas regiões brasileiras entre julho e outubro de 2020. Os participantes receberam uma pesquisa online que englobou variáveis demográficas, características ocupacionais e questionários autorrelatados de bem-estar mental e emocional. Dentre os profissionais elegíveis ao estudo, 1.084 responderam ao questionário, que incluíam médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e técnicos de enfermagem.
Os entrevistados eram principalmente jovens, mulheres e um terço eram médicos. Cerca de 20% dos participantes relataram diagnóstico prévio de transtorno de saúde mental confirmado por um especialista, e quase 80% declararam-se satisfeitos ou muito satisfeitos com seu trabalho atual. No questionário, as pontuações de burnout em relação à exaustão emocional e realização pessoal foram altas. A prevalência de ansiedade (33%), depressão (19%) e TEPT (13%) também foram constatadas. Além disso, os pesquisadores também observaram que aqueles com problemas prévios de saúde mental obtiveram pontuações mais altas, e que os membros mais jovens da equipe relataram mais esgotamento.
Vale destacar que os profissionais que trabalham no sistema de saúde pública estavam mais expostos ao risco de esgotamento e TEPT. No Brasil, as instituições públicas de saúde são responsáveis pela maior parte do atendimento da população e essas apresentam escassez crônica de recursos e mão de obra, culminando em uma carga de trabalho e estresse muito maior para a equipe da UTIP.
Nas categorias profissionais, os médicos tiveram piores escores de burnout, embora não tenham sido encontradas diferenças de prevalência entre os subgrupos. A complexa tomada de decisão ao lidar com recursos limitados diante das demandas extremamente altas impostas pela pandemia pode ter influenciado nesse dado.
Os autores relatam que há poucos estudos relacionados à pediatria para que seja possível realizar uma comparação. Porém, os índices de burnout se mostraram superiores aos obtidos em um outro estudo, conduzido por um grupo de pesquisadores do IDOR antes da pandemia, envolvendo profissionais de UTI adulta. Um ponto de limitação desta pesquisa é o fato de ser um estudo transversal, não sendo possível avaliar a relação causa-efeito.
Os trabalhadores brasileiros de UTIP pareceram estar em maior risco de apresentar sintomas de transtornos mentais durante o primeiro pico da Covid-19, em 2020, em comparação com o período pré-pandêmico. Apesar dos elevados níveis de realização pessoal combinados com a satisfação geral com o trabalho atual, o apoio organizacional pode ajudar em situações desafiadoras de alto nível de sofrimento psicológico e estresse traumático.
No editorial, a Dra. Colville concluiu que “Precisamos ser capazes de responder honestamente ‘Como foi o trabalho hoje?’ e reconhecer que mesmo nos momentos mais sombrios, é possível encontrar sentido no que fazemos.”
Escrito por Manuelly Gomes
Supervisão: Maria Eduarda Ledo de Abreu