No mês de outubro, a campanha Outubro Rosa nos convida a refletir sobre a importância da conscientização e do diagnóstico precoce do câncer de mama. Esta campanha busca não apenas promover a saúde das mulheres, mas também divulgar avanços na pesquisa e no tratamento da doença.
Além da prevenção e do diagnóstico precoce, o tratamento da doença é igualmente importante e ainda mais desafiador, pois são muitas as variáveis que interferem em seu resultado, que varia com o subtipo da doença e extensão no corpo. Nesse campo, os pesquisadores da Oncologia D’Or e do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) têm contribuído para estudos que visam melhorar o entendimento sobre o câncer de mama e suas complicações.
A seguir, confira as diversas vertentes do IDOR em estudos sobre o câncer de mama:
Estudos Clínicos Patrocinados
O câncer de mama é um dos principais temas estudados por diversas farmacêuticas internacionalmente reconhecidas. O IDOR participa de inúmeros ensaios clínicos, desenvolvendo pesquisas de qualidade para testar novas opções de terapias mais precisas e seguras para pacientes de todo o mundo.
Na página de Ensaios Clínicos do nosso site, é possível verificar os estudos em andamento sobre essa e outras doenças, além de chamadas de voluntários. A página possui uma ferramenta de busca personalizada, sendo possível seu uso por médicos ou pacientes interessados.
Pesquisas Moleculares e Translacionais
Além dos ensaios clínicos, o IDOR realiza muitos estudos “de bancada”, que é como são chamados os estudos laboratoriais voltados para compreender melhor a doença e os possíveis mecanismos que as causam. Quando esses estudos seguem um acompanhamento desde o desenvolvimento básico até pesquisas em seres humanos, eles são chamados de translacionais.
Destacam-se nesse portfólio estudos de genômica e de precisão, utilizando técnicas avançadas como a análise de célula única, uma tecnologia que permite determinar a expressão de genes e quantificar células de uma amostra. Outra linha de pesquisa consiste na análise detalhada do microambiente tumoral, reconhecendo o comportamento das diferentes células de defesa do organismo, com marcadores que indicam maiores ou menores chances de resposta a um determinado tratamento, por exemplo.
Outros estudos com biomarcadores para a doença também são realizados tendo como foco microvesículas celulares, que são pequenas moléculas secretadas por células saudáveis ou tumorais e que contêm informações importantes sobre o organismo em situações de saúde ou patológicas.
Sete Estudos sobre Câncer de Mama com Apoio do IDOR
A seguir, apresentamos as principais pesquisas sobre o câncer de mama nas quais os pesquisadores do IDOR estiveram envolvidos ao longo deste ano:
1.Avanços na Terapia Personalizada: Abemaciclib como Tratamento Adjuvante para Câncer de Mama de Alto Risco
Publicado no Journal of Clinical Onclology, um estudo com envolvimento do IDOR investigou a eficácia do abemaciclib, um medicamento utilizado no tratamento de pacientes com câncer de mama de alto risco, com receptor hormonal positivo e HER2-negativo. Este tipo de tumor é desafiador de ser tratado e em muitos casos há maior probabilidade de recorrência da doença.
O estudo acompanhou as pacientes por um período de cinco anos e demonstrou que a combinação de abemaciclib com a terapia endócrina resultou em uma significativa redução na recorrência do câncer, reduzindo o risco de recorrência invasiva em 32%, comparado à terapia endócrina isolada. Esses resultados foram obtidos após dois anos de tratamento, com benefícios que se mantiveram ao longo dos cinco anos seguintes.
- Redução de dosagem do Abemaciclib e seus Efeitos no Tratamento do Câncer de Mama
Publicado no npj Breast Cancer, do grupo Nature, o estudo “monarchE” focou na eficácia do medicamento abemaciclib como terapia adjuvante para pacientes com câncer de mama de alto risco e com linfonodos afetados. Os resultados mostraram que o uso de abemaciclib significativamente melhorou a sobrevida livre de doença, com benefícios que se estenderam além do período de tratamento de dois anos.
Uma característica importante do estudo foi a possibilidade de reduzir a dosagem do abemaciclib para gerenciar os efeitos colaterais. Os pesquisadores realizaram análises adicionais para avaliar como essas reduções de dose afetavam a eficácia do tratamento. Os resultados mostraram que a eficácia do abemaciclib não foi comprometida mesmo com a redução da dose, o que é encorajador para pacientes que podem necessitar de ajustes no tratamento.
- Pesquisas com Imunoterapia Neoadjuvante
No periódico British Journal of Cancer, uma publicação analisou diversas pesquisas anteriores sobre o uso da imunoterapia neoadjuvante (nIO), uma opção de tratamento para pacientes com câncer de mama triplo-negativo em estágios II a III.
A meta-análise de dados individuais de pacientes mostrou que a combinação de nIO com a quimioterapia resulta em benefícios estatisticamente significativos em termos de sobrevida da população, cujos riscos apresentaram uma redução de 38%. Os resultados apoiam o uso da nIO como tratamento padrão para o câncer de mama triplo-negativo em estágio inicial.
- Projeto de Mapeamento Genômico do Câncer de Mama e de Próstata
O projeto Onco-Genomas Brasil se propõe a mapear o câncer de mama e de próstata no sistema de saúde pública brasileiro, oferecendo dados relevantes para o tratamento e prognóstico dessas condições. Seu objetivo é caracterizar o cenário genômico de mulheres com câncer de mama HER2-positivo localmente avançado e homens com câncer de próstata metastático.
A pesquisa engloba inicialmente 550 pacientes adultos de todas as cinco regiões do Brasil. Durante o estudo, serão coletados dados clínicos e patológicos, além de amostras de DNA do sangue periférico e dos tumores para identificar variantes genéticas que possam ter impacto no prognóstico e na resposta ao tratamento. O protocolo do projeto foi publicado na Frontiers in Oncology.
- Testando Medicamentos contra o Câncer de Mama Triplo-Negativo
Ainda em andamento, o estudo TROPION-Breast03 é um ensaio clínico que busca avaliar um novo tratamento para pacientes com câncer de mama triplo-negativo, uma das formas mais agressivas da doença, caracterizado pela ausência de receptores hormonais, o que dificulta o tratamento e aumenta o risco de recorrência após a terapia.
Neste estudo, os pesquisadores estão testando o datopotamab deruxtecan (Dato-DXd), um tipo de medicamento que combina um anticorpo com uma droga anticâncer potente, em combinação com outro medicamento chamado durvalumab, que ajuda o sistema imunológico a atacar as células cancerosas. O objetivo é determinar se essa combinação pode melhorar a sobrevida e reduzir o risco de recorrência em comparação com as terapias padrão atualmente disponíveis. A pesquisa está na fase III e teve protocolo publicado na Therapeutic Advances in Medical Oncology (TAM).
- Estudos de Genômica para Diagnósticos e Tratamentos de Precisão
Publicada na Nature Communications, uma pesquisa liderada pelo INCA e com participação do IDOR identificou subpopulações de células imunes associadas a tumores. Essas células, que desempenham um papel importante no crescimento tumoral e são potenciais alvos para novos tratamentos, estavam relacionadas a piores desfechos clínicos em cânceres como o de ovário e o de mama triplo-negativo.
A pesquisa também mostrou que a expressão da proteína TREM2, isoladamente, não é suficiente para prever o prognóstico do câncer, pois diferentes subtipos de células que a expressam apresentam comportamentos variados de acordo com o ambiente tumoral. Esses achados fornecem uma base para futuras investigações sobre como o sistema imunológico interage com os tumores, o que pode levar a estratégias mais eficazes para tratar cânceres sólidos, além de ajudar a prever a evolução da doença em cada paciente.
- Enfrentando o Câncer de Mama Triplo Negativo no Brasil
O câncer de mama triplo-negativo em estágio avançado é um problema de saúde pública no Brasil, sendo o tratamento padrão a quimioterapia neoadjuvante. Para entender melhor o cenário, um estudo realizado entre 2015 e 2017 envolveu 30 mulheres diagnosticadas com a doença e 30 mulheres saudáveis, e foi publicado no Journal of Surgical Oncology.
Os resultados mostraram que as pacientes com câncer apresentavam níveis elevados de células T com marcadores específicos, como CD28, FAS e PD-1, em comparação às mulheres saudáveis. Esses achados sugerem marcadores podem ser preditivos da resposta à quimioterapia em pacientes com câncer de mama triplo-negativo. As mudanças mais significativas no perfil da resposta imune após a quimioterapia demonstraram que o tratamento pode modular a resposta imune, influenciando o prognóstico das pacientes.
Pesquisadores envolvidos nas publicações do Outubro Rosa: Renata Bonadio, Maria Del Pilar, Laura Testa, Karina Moutinho, Vanessa Petry, Luiz Senna Leite, Gabriel S. Macedo, Rodrigo Naglio, Fernando Soares