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Artigo discute atualizações importantes no SOFA, escore amplamente utilizado na pesquisa e prática clínica

Artigo discute atualizações importantes no SOFA, escore amplamente utilizado na pesquisa e prática clínica

O Sequential Organ Failure Assessment é muito utilizado por sua simplicidade e aplicabilidade e deve ser atualizado para acompanhar a evolução da medicina ao longo das últimas 3 décadas.  

Publicado na revista Critical Care, um artigo com participação do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) e diversos outros centros internacionais sugeriu atualizações importantes em um escore amplamente utilizado na medicina intensiva. A discussão leva em consideração aspectos que devem ser preservados no sistema avaliação assim como características que estão desatualizadas em relação às tecnologias terapêuticas e exames contemporâneos. 

O que é o Sequential Organ Failure Assessment (SOFA)? 

O Sequential Organ Failure Assessment (SOFA) é um escore desenvolvido em 1994, que desempenha até hoje um papel fundamental na avaliação da disfunção orgânica em pacientes gravemente enfermos. Seu objetivo principal é descrever objetivamente a disfunção de diversos órgãos de sistemas, incluindo cardiovascular, respiratório, renal, hepático, neurológico e de coagulação, sem prever o prognóstico de doenças. No entanto, na medida em que a medicina intensiva evoluiu significativamente nos 30 anos desde sua concepção, tornou-se evidente a necessidade de uma atualização para refletir as práticas clínicas atuais. 

 

Por que o SOFA ainda é amplamente utilizado? 

O artigo, que foi de autoria de diversos médicos e pesquisadores com ampla experiência na ária de medicina intensiva, aponta vários pontos ainda relevantes no SOFA, como sua expressão da natureza dinâmica da disfunção orgânica, que necessita de avaliação regular para capturar o curso temporal dos danos no órgão.  

Os autores acreditam que os princípios fundamentais de simplicidade e objetividade são essenciais e devem permanecer como um parâmetro durante a atualização, e que a implementação de um número limitado de variáveis objetivas facilmente obtidas em todas as instituições de saúde seria o ideal para o que seria o suposto “SOFA 2.0”. Alguns sistemas, como o cardiovascular e o respiratório, podem, contudo, ter mudanças mais consideráveis no escore. 

 

Perspectivas de atualização para o SOFA 

Segundo o artigo, manter a bilirrubina como um marcador para avaliação da função hepática no SOFA segue uma decisão relevante para a prática clínica, pois é uma medida confiável e amplamente disponível em muitos contextos clínicos.  

As variáveis escolhidas para avaliar a função cardiovascular também devem ser mantidas como independentes das terapias administradas. Contudo, considerando os avanços na terapia cardiovascular, a atualização do SOFA deveria contemplar a inclusão de novos vasopressores e agentes inotrópicos. Também seria relevante a incorporação de técnicas avançadas de suporte cardiovascular no SOFA, como oxigenação por membrana extracorpórea venoarterial (VA-ECMO), dispositivos de assistência cardíaca, ou outros sistemas de suporte. 

Respeitando os fundamentos do SOFA, os autores ressaltam que a inclusão desses novos elementos deveria ocorrer sem tornar o escore excessivamente complexo. Ademais, poderiam ser acrescentados biomarcadores adicionais, como a concentração de lactato sanguíneo. A monitorização do lactato pode ser uma maneira eficaz de avaliar a resposta ao tratamento inicial, embora sua inclusão exija uma avaliação prospectiva de utilidade.  

Os autores comentam que a modernização do SOFA no contexto pulmonar deve equilibrar a tradição e a inovação, mantendo sua simplicidade essencial, enquanto lança mão de elementos que refletem com precisão as práticas contemporâneas da terapia intensiva respiratória.  

Uma monitorização menos invasiva poderia ocorrer com a substituição da mensuração da PaO2 por análise de gás sanguíneo pela SpO2 obtida através da oximetria de pulso. Entretanto, é crucial reconhecer que a SpO2 pode ser sujeita a viés e requererá considerações matemáticas adicionais para ser incluída como alternativa de avaliação da oxigenação, o que pode interferir em sua aplicabilidade. 

A inclusão de novos métodos de suporte respiratório, como terapia de oxigênio de alto fluxo (HFOT), ventilação mecânica não invasiva e oxigenação por membrana extracorpórea venovenosa (VV-ECMO) também pode ser interessante, assim como a expansão dos critérios utilizados para a avaliação da disfunção respiratória. 

Dada a complexidade na interpretação da Glasgow Coma Scale (GCS) em pacientes sob sedação, pode ser necessário considerar abordagens alternativas, como o uso do GCS assumido, levando em conta o estado de sedação. No entanto, isso deve ser ponderado em relação às limitações e à crescente automação na coleta de dados. 

 

Conclusões 

Embora a inclusão de outros sistemas orgânicos, como gastrointestinal, metabólico ou imunológico seja considerada no artigo, os autores reconhecem a simplicidade do escore SOFA como uma característica-chave, que permanece relevante na descrição objetiva de padrões de disfunção orgânica.  

No entanto, o cenário em evolução da terapia intensiva exige uma reavaliação, levando à proposta de um SOFA 2.0 que modernize o escore. O artigo aponta que, antes que qualquer substituição do escore SOFA original possa ser considerada, ainda é necessária uma exploração orientada por dados, construção de consenso e validação dessas mudanças, mantendo o compromisso de garantir a simplicidade do escore enquanto reflete as práticas contemporâneas em ambientes de cuidados intensivos. 

Escrito por Maria Eduarda Ledo de Abreu.
Ilustração: Storyset

06.09.2024

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