Pesquisa levou em consideração dados multicêntricos de mais de 200 pacientes internados em unidades de terapia intensiva
Publicado na revista Annals of Intensive Care, um estudo com participação do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) e de outros centros de pesquisa de nove países diferentes, reconheceu padrões prognósticos em pacientes com leucemia mieloide aguda internados com quadro de insuficiência respiratória aguda em unidades de terapia intensiva. A publicação trouxe dados importantes sobre o risco de mortalidade e distinguiu subgrupos dentre os pacientes, apontando as melhores técnicas de manejo para cada tipo de quadro clínico.
Leucemia Mieloide Aguda e Insuficiência Respiratória Grave
A leucemia mieloide aguda (LMA) é um tipo de câncer sanguíneo caracterizado por uma disfunção na produção de células do sangue, que passam a ser ineficientes no transporte de substâncias vitais ao organismo e nos processos de defesa contra infecções. Em alguns casos, a vulnerabilidade imunológica de pacientes com LMA pode favorecer o surgimento de insuficiência respiratória aguda (IRA), que são complicações respiratórias severas e cujo manejo ainda precisa de melhores direcionamentos em unidades de terapia intensiva (UTIs).
Considerando a gravidade dessas comorbidades e o risco que oferecem aos seus portadores, os pesquisadores do estudo analisaram informações de mais de 200 pacientes com LMA e IRA em busca de dados sobre mortalidade outras características para a distinção de grupos clínicos dentro dessa mesma população.
A metodologia da pesquisa se baseou em uma análise pós-hoc, que utilizou dados de um outro estudo internacional que reunia informações de pacientes onco-hematológicos com IRA admitidos em 68 unidades de terapia intensiva. Os autores do atual estudo utilizaram então análises estatísticas para identificar padrões com base em características como sintomas, exames e dados clínicos de cada um dos pacientes selecionados para a pesquisa.
O estudo encontrou uma taxa alta de mortalidade hospitalar, que chegou a alcançar 46,8%. Mas esse desfecho não atingia os pacientes de forma homogênea, havendo variáveis associadas à mortalidade, como a presença tosse, padrão alveolar difuso na radiografia do pulmão, e o comprometimento de órgãos como o pulmão e o fígado. Os autores constatam, contudo, que, os indicativos de gravidade dos pacientes podem ser facilmente identificados por exames de imagem e verificação de sintomas durante a admissão na UTI.
Curiosamente a necessidade de ventilação mecânica invasiva (intubação) não esteve associada a maior mortalidade, achado que os autores creditam ao timing do procedimento, que foi aplicado em média um dia após a admissão na UTI. Esse dado clínico é de extrema relevância para a equipe intensivista, considerando que em outros estudos o uso da ventilação mecânica após três ou quatro dias da internação foi associado a maior mortalidade desses pacientes.
Identificando Subgrupos
Além de identificar as características associadas a um maior risco de mortalidade entre os pacientes, o estudo também identificou três subgrupos ou clusters clínicos distintos nessa população.
O primeiro foi definido como cluster leucêmico, que considerava pacientes graves com LMA, mas que possuíam IRA isolada e leve, apresentando boa resposta à quimioterapia e um prognóstico favorável em cerca de 70% dos casos.
O segundo foi o cluster pulmonar, que distinguia os pacientes imunocomprometidos com IRA grave e difusa, de origem infecciosa. Esse grupo demonstrou alta necessidade de oxigênio e risco aumentado de pneumonia associada à ventilação mecânica. Essa população se mostrou mais propensa a infecções virais e necessitou de um tempo maior de internação quando comparada com os outros clusters.
O terceiro e último cluster identificado foi o clínico inflamatório, que compreendia pacientes com falência de múltiplos órgãos além da IRA, e que enfrentavam a maior taxa de mortalidade entre os subgrupos clínicos.
A identificação desses subgrupos clínicos é um recurso importante não apenas para entender seus prognósticos como principalmente para guiar escolha de uma estratégia de manejo apropriada.
Segundo os pesquisadores, o cluster leucêmico pode se beneficiar de uma iniciação precoce da quimioterapia, enquanto o cluster inflamatório pode exigir o uso de ventilação mecânica invasiva, e essas diferenças podem favorecer melhores resultados clínicos. O estudo ainda aponta que a identificação da gravidade e dos clusters é extremamente acessível, podendo ser reproduzível na maioria das UTIs através da triagem e de exames de imagens após a admissão de pacientes.
Escrito por Maria Eduarda Ledo de Abreu.