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No limiar entre a ficção e a ciência

No limiar entre a ficção e a ciência

Ficçã o e ciência

Na 7ª edição do Open D’Or Talks, o neurocientista Stevens Rehen analisa a relação entre o cinema de ficção científica e a ciência desenvolvida por pesquisadores.

Conhecida por suas apostas especulativas em um futuro tomado por desenvolvimentos tecnológicos, a ficção científica se tornou um dos gêneros mais adorados do cinema. O que alguns não sabem, porém, é que muitas dessas obras se baseiam em prospecções dos reais avanços científicos que experienciamos no dia a dia; ao mesmo tempo, as histórias de ficção também são responsáveis por estimular e iluminar novos desafios a serem ultrapassados por nossa sociedade, de forma que muito da ciência atual, um dia, já foi de fato ficção científica.

Com esta temática em mente, no Open D’Or Talks dessa sexta-feira, o neurocientista Stevens Rehen deu uma palestra sobre o quanto da indústria cinematográfica já está refletida na ciência contemporânea. Rehen, que é professor da UFRJ e pesquisador do Instituto D’Or de Pesquisa em Ensino (IDOR), também atua como consultor de Ciência no programa Conversa com Bial, na TV Globo, e é considerado um nome de referência na tarefa de divulgar os avanços da ciência desenvolvida no Brasil. Com isso, ele busca relacionar temas populares e acadêmicos, conectando, na ocasião da palestra, o cinema e a ciência.

O Curioso Caso de Benjamin Button

Cena do filme O Curioso Caso de Benjamin Button. Reprodução Paramount Pictures/IMDB

Entre diversos exemplos, Rehen atentou que cada vez mais os roteiristas de filmes de ficção científica recorrem à orientação de cientistas para a produção de suas histórias, de forma que a fantasia inspira a ciência e a ciência inspira a fantasia em suas produções. Falando sobre blockbusters como o Curioso Caso de Benjamin Button, um filme que conta a história de um protagonista que nasce idoso e vai rejuvenescendo ao longo de sua vida, o neurocientista afirma que o envelhecimento é uma pauta muita ativa nas pesquisas científicas. Dentre elas existem estudos como os referentes à Progéria, doença rara que acomete algumas crianças, fazendo com que possam apresentar, aos 7 anos, características físicas de um idoso de 70. Por outro lado, outras vertentes científicas buscam com a mesma curiosidade aprofundar o conhecimento sobre os telômeros, que são as “pontas” dos cromossomos de nosso DNA, cujo desgaste natural é chave de nosso envelhecimento.

Outra pauta muito discutida no cinema e na ciência é o mistério da memória. Apesar do muito que já foi descoberto, ainda restam centenas de questões sobre os processos de armazenamento de memória no cérebro, principalmente no referente à nossa capacidade de proteger ou excluir de nossa mente informações já adquiridas. Citando a obra Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, um clássico moderno, Stevens Rehen compara o roteiro do filme com os reais esforços científicos da atualidade. Na história, o protagonista contrata um serviço de reconfiguração de memória para esquecer uma desilusão amorosa; enquanto isso, na vida real, cientistas já descobriram que realmente é possível apagar memórias desativando determinados genes, lição aprendida com doenças como a demência e o Alzheimer.

Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças

Poster do filme Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças. Reprodução Focus Features/IMDB

Outros filmes, como A origem, onde criminosos invadem a mente de pessoas com intenção de obter informações valiosas ou influenciar a tomada de decisões, também serviram de exemplo para as descobertas científicas envolvendo o sono e o aprendizado, entre outros diversos temas que vemos na tela, mas que poderiam também ser lidos em artigos científicos. Rehen aproveitou o fim da palestra para divulgar os trabalhos que desenvolve junto ao IDOR e a UFRJ, a exemplo do estudo de substâncias psicodélicas no tratamento da depressão e a utilização de células descartadas na urina para reprogramação de células-tronco, que servem para estudar em laboratório o desenvolvimento neuronal humano, chegando até à criação de minicérebros, que são moldes não invasivos para diversas pesquisas que envolvem nosso funcionamento cerebral.

Ao fim da apresentação, os participantes possuíam mais perguntas do que respostas sobre as possibilidades e limites da ciência. Porém, para o palestrante, esta é de fato uma das principais intenções ao se falar em divulgação científica, que não serve apenas para comunicar ou popularizar a ciência, mas também estimular o interesse genuíno em seu acompanhamento e desenvolvimento, mostrando que ela é tão fascinante como nossas obras de entretenimento favoritas.

Escrito por Maria Eduarda Ledo de Abreu.

06.08.2019

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