A astrogliose, inflamação que ocorre no tecido cerebral, é comum a doenças como Alzheimer e mal de Parkinson.
Os astrócitos são células neurais com papel fundamental em nosso sistema nervoso. A inflamação dessas células constitui um fenômeno chamado astrogliose, reação que, quando crônica ou ocasionada por fatores externos como lesões e infecções, está associada a doenças neurodegenerativas. Cientes deste processo fundamental para evitar doenças e melhorar a qualidade de vida de pacientes, pesquisadores do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em parceria com outras instituições nacionais, publicaram um dos primeiros estudos a observar detalhadamente esse processo inflamatório em astrócitos humanos criados em laboratório.
O termo astrogliose pode parecer pouco familiar e estritamente científico para boa parte da população, mas a realidade é que este tipo de inflamação é comum a várias doenças que afetam o sistema nervoso central, como o mal de Parkinson, esclerose múltipla, Alzheimer e malformações congênitas causadas pelo vírus da zika. A inflamação é muito conhecida no meio acadêmico, porém, a maioria das pesquisas foi desenvolvida em modelos animais, estratégia experimental que apesar de relevante para o avanço científico, sob muitos aspectos não exprime a complexidade cerebral humana. “Os testes em animais possuem sua relevância na ciência, mas a realidade é que eles falham em reproduzir alguns aspectos humanos, principalmente quando relacionados a respostas do sistema imunológico. É o caso das células gliais humanas, entre elas os astrócitos, que são responsáveis pela manutenção metabólica dos neurônios e de seus impulsos nervosos”, afirma Pablo Trindade, primeiro autor do estudo.
Para entender o processo inflamatório da astrogliose,o coordenador da pesquisa e cientista das instituições UFRJ e IDOR, Stevens Rehen, adotou um procedimento de cultivo celular que já é sua assinatura em diversos outros estudos sobre o cérebro humano — entre eles, o desenvolvimento de organoides cerebrais que ajudaram a correlacionar o vírus da zika ao surgimento de microcefalia. O método da equipe de Rehen consiste em desenvolver em laboratório células-tronco pluripotentes, que são reprogramadas a partir de células humanas encontradas naturalmente na urina de doadores voluntários. Essas células-tronco são estimuladas para que se transformem em astrócitos saudáveis, ou em qualquer outra célula interessante para a pesquisa da vez. Neste caso, a partir da criação de astrócitos, os cientistas colocaram as células para reagir com uma proteína inflamatória chamada TNF, obtendo em laboratório o mapa de uma astrogliose humana. Os resultados observados indicam que o processo da inflamação já ocorre na primeira hora, e que vai prejudicando gradativamente a eficiência dos astrócitos ao longo do tempo.
Além de alterações na estrutura das células, que passam a apresentar núcleos menores e formas esticadas, a inflamação interferiu na função primordial dos astrócitos: regular os neurotransmissores; isto é, as substâncias secretadas naturalmente por neurônios como forma de comunicação, mas que podem causar severos danos se circulam em demasia ou em carência em nosso sistema nervoso. Durante a astrogliose, o estudo identificou principalmente uma irregularidade no sistema de captação de glutamato, aminoácido que é fundamental para funções cognitivas cerebrais como a aprendizagem e a memória, além de ser nosso principal neurotransmissor estimulatório.
Os resultados da publicação representam pioneirismo nacional nos estudos sobre a astrogliose, descrevendo um procedimento que analisa o fenômeno neurodegenerativo de forma não invasiva, utilizando células humanas. Os pesquisadores apontam que as evidências e os métodos viabilizados a partir desse estudo podem servir como base para outras pesquisas, incluindo aquelas direcionadas a descobertas de novos tratamentos que possam melhorar a qualidade de vida de pessoas com inflamações cerebrais causadas por doenças neurodegenerativas.
Escrito por Maria Eduarda Ledo de Abreu.
Cookie | Duração | Descrição |
---|---|---|
cookielawinfo-checkbox-analytics | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Analytics". |
cookielawinfo-checkbox-functional | 11 months | The cookie is set by GDPR cookie consent to record the user consent for the cookies in the category "Functional". |
cookielawinfo-checkbox-necessary | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookies is used to store the user consent for the cookies in the category "Necessary". |
cookielawinfo-checkbox-others | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Other. |
cookielawinfo-checkbox-performance | 11 months | This cookie is set by GDPR Cookie Consent plugin. The cookie is used to store the user consent for the cookies in the category "Performance". |
viewed_cookie_policy | 11 months | The cookie is set by the GDPR Cookie Consent plugin and is used to store whether or not user has consented to the use of cookies. It does not store any personal data. |