Um estudo publicado na revista científica European Radiology que contou com a participação de pesquisadores do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e do Instituto de Estudos de Saúde Coletiva da UFRJ, utilizou o exame de ressonância magnética com ácido gadoxético, um contraste hepatobiliar que é captado células do fígado (hepatócitos), para avaliação da função hepática em pacientes com cirrose. Os pesquisadores compararam os resultados obtidos nos exames com os índices observados nos demais indicadores para a identificação da cirrose e classificação da gravidade da doença.
A cirrose hepática é uma das principais causas de morte em todo o mundo. “A cirrose se caracteriza uma alteração estrutural do fígado associada ao desenvolvimento de fibrose. Em estágios mais avançados da doença, observa-se alteração da função do fígado, além do desenvolvimento de complicações, como ascite, encefalopatia, hemorragia digestiva”, informa a Dra. Renata Perez, coordenadora do estudo e pesquisadora do IDOR.
A avaliação da função hepática na cirrose é de extrema importância pois está diretamente relacionada ao risco de complicações e de morte. Essa avaliação costuma ser realizada com base em critérios clínicos e laboratoriais, como é feito no Escore Child-Pugh e no Escore MELD (do inglês, Model for End-stage Liver Disease), usados na determinação da gravidade da doença no fígado. No entanto, há espaço para um marcador específico não-invasivo nestas avaliações.
“Em fase mais avançada, torna-se fundamental estimar o grau de insuficiência hepática, e a RNM com ácido gadoxético pode contribuir para avaliação da gravidade da doença hepática”, complementa. A RNM utilizando o ácido gadoxético pode se tornar um importante método para estimar a função hepática, sendo o índice de realce relativo (REI) um dos mais precisos. Os autores do estudo informam que o REI foi escolhido pois utiliza a intensidade do sinal do fígado durante a ressonância na fase pré-contraste e na fase intracelular (hepatobiliar), ajustada ao volume hepático. O volume do fígado precisa ser considerado no cálculo da função hepática por sua relação com a quantidade de hepatócitos.
O estudo contou com 60 pacientes diagnosticados com cirrose hepática com base nos exames clínicos, laboratório e de imagem. Todos os pacientes realizaram, com um intervalo de 2 semanas, o exame de ressonância magnética com ácido gadoxético, com a medição do REI, e teste de depuração de verde indocianina. As amostras de sangue foram coletadas para análise em laboratório no mesmo dia do teste do verde indocianina para calcular os escores de Child-Pugh e MELD.
Dentre os pacientes, 48% apresentaram hepatite C como causa mais frequente para a cirrose. O estudo envolveu um grupo de 60 pacientes composto por 20 pacientes Child A, 20 Child B e 20 Child C, sendo este último grupo com pacientes mais graves.
Os pesquisadores observaram correlações entre REI e a função hepática quantificada pelos escores Child-Pugh e MELD e taxa de depuração do verde indocianina. Quando realizaram a investigação específica em cada classe de Child-Pugh, a correlação entre REI e teste do verde indocianina foi fraca apenas entre os pacientes com Child-Pugh C. Os pesquisadores sugerem que esse achado pode estar relacionado a ocorrência de shunts portossistêmicos, observados na cirrose hepática e mais frequentes em pacientes com doença hepática grave.
Além disso, a ressonância com o auxílio de REI foi bem-sucedido em diferenciar grupos de função hepática boa e ruim. Valores de REI abaixo de 73 indicam disfunção hepática grave, valores entre 73-135 indicam a disfunção hepática moderada, valores de REI > 135 indicam função hepática preservada.
Apesar do limitado número de pacientes, o estudo se mostra promissor considerando que tem uma boa representação para cada grupo do escore Child-Pugh. Vale destacar que ainda apresenta uma quantidade de pacientes do grupo Child-Pugh C relevante em comparação a outros estudos. Os autores demonstram boa correlação entre os resultados da ressonância medido por REI e outros parâmetros usados para avaliar a função hepática. O REI permite a classificação de pacientes cirróticos e pode ser utilizado como informação adicional na avaliação de rotina de pacientes submetidos à ressonância magnética com utilização do contraste ácido gadoxético.
Escrito por Manuelly Gomes
Supervisão: Dr. Claudio Ferrari