O fato histórico nos alivia quanto à evolução da comunicação e do sistema de saúde, mas alerta para a fragilidade das populações mais pobres.
O Estado de São Paulo é acometido por uma doença altamente transmissível. As autoridades sanitárias publicam uma série de recomendações para ensinar a população a se prevenir e para impedir a disseminação da doença, que vinha matando milhares de pessoas na Europa e nos Estados Unidos. Entre as medidas, estavam “fugir das aglomerações”, “não frequentar teatros e cinemas”, “não fazer visitas” e “tomar cuidados higiênicos”. Ao mesmo tempo, escolas, cinemas e teatros foram fechados… Parece bem contemporâneo, mas estamos falando da gripe espanhola, que acometeu o país ainda em 1918.
A gripe espanhola nos ensinou que uma doença com baixa taxa de mortalidade pode se transformar em uma verdadeira peste negra contemporânea quando levamos em consideração seu alto nível de contágio e os limites dos sistemas de saúde. Cerca de cem anos depois, o cenário pode parecer muito similar, mas agora contamos com diferentes meios de informação e com a agilidade que eles ganharam graças à tecnologia, o que torna mais fácil a conscientização da população. Com a internet e os diversos meios de comunicação, a atual pandemia do novo coronavírus (COVID-19) está gerando uma reação mais precoce, além de contarmos hoje com muito mais preparo técnico e científico para lidar com a epidemia no Brasil.
Apesar disso, temos vários desafios a superar e importantes lições a tirar da epidemia de 1918, que deixou cerca de 35 mil mortos no país. Uma dessas lições é que vivemos em um país de condições desiguais e que fatores como a má nutrição e a falta de saneamento podem ser extremamente agravantes para as populações mais pobres, o que torna as políticas públicas ainda mais importantes neste momento. Se por um lado ainda não superamos a desigualdade social no país, por outro, muitas de nossas instituições de saúde estavam preparadas e tomaram medidas de contenção rapidamente após a chegada do COVID-19, reação que não ocorreu de pronto com a gripe espanhola.
O aprendizado histórico nos traz certos alívios quanto aos recursos que a contemporaneidade oferece à população, seja no desenvolvimento dos tratamentos ou na velocidade das informações. No entanto, momentos como esse ressaltam que nossa carência social nos deixa ainda mais frágeis diante de cenários como o atual, e exige que tomemos consciência do problema que estamos vivendo e pratiquemos mais do que nunca o altruísmo e a empatia, além de ressaltar o papel público diante da correção desse problema, tanto durante a pandemia, como mais estruturalmente, após o coronavírus.
Esta matéria é um conteúdo IDOR adaptado de uma matéria do Globo. Você pode verificar o texto original clicando aqui.
Escrito por Maria Eduardo Ledo de Abreu.