Estudo avalia anticorpos humanos neutralizantes que são suscitados pela infecção por SARS-CoV-2

Estratégias são testadas em diversas partes do mundo para o tratamento da COVID-19, doença causada pelo vírus SARS-CoV-2, visto que até agora não existem remédios ou vacinas específicos para tratar tal doença. Diversos medicamentos antivirais, como o remdesivir, estão sendo investigados clinicamente. O processo de contágio acontece quando o vírus entra na célula após o ligamento entre o domínio ligante do receptor (RBD) viral da proteína transmembrana Spike e o receptor da célula alvo da enzima de conversão da angiotensina 2 (ACE2). O SARS-CoV-2 pertence à família dos betacoronavírus e compartilha importante semelhança genética e funcional com outros betacoronavírus humanos patogênicos, incluindo o Coronavírus da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS-CoV) e o Coronavírus da Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS-CoV).

Um estudo publicado na Revista Antimicrobial Agents and Chemotherapy investigou a resposta de 206 anticorpos monoclonais RBD-específicos (mAbs) derivados de células B de 38 pacientes infectados por SARS-CoV-2, dos quais 37 se recuperaram. Foram analisadas as respostas plasmáticas e de células B específicas para o vírus. Amostras de sangue foram coletadas durante o surto inicial da doença em Shenzhen, China. Depois disso, foram caracterizadas as respostas dos anticorpos para COVID-19 e os mAbs específicos para o SARS-CoV-2 foram isolados.

O grupo verificou que cada indivíduo parece ter um padrão único de distribuição dos anticorpos sem preferências aparentes para famílias específicas de anticorpos. Análises adicionais realizadas em um dos pacientes demonstraram uma variabilidade substancial na distribuição e na frequência de cada família de anticorpos. Alguns clones foram identificados apenas uma vez, enquanto outros foram submetidos a altos graus de expansão clonal. Eles também avaliaram o perfil comparativo dos SARS-CoV-2 e SARS-CoV que, mesmo com similaridades estruturais e sequenciais dos RBDs, não possuíam nenhum grau de ligação cruzada e neutralização cruzada entre os dois vírus.

Assim, por serem imunologicamente distintos, SARS-CoV-2 e SARS-CoV devem ter anticorpos e vacinas desenvolvidos para chegarem ao alvo de cada espécie viral de maneira diferente, a fim de alcançar a máxima eficácia na proteção do hospedeiro da infecção. Essa descoberta soluciona em parte o porque de muitos anticorpos para SARS-CoV anteriormente isolados não conseguirem neutralizar o SARS-CoV-2. Finalmente, apesar de isolar e caracterizar um grande número de mAbs contra SARS-CoV-2, não se pode estabelecer nenhuma correlação firme entre a resposta de anticorpos e o status da doença nesse momento. Um número maior de pacientes deve ser estudado para elucidar os fatores determinantes e o impacto das associações entre a resposta de anticorpos e a progressão da doença, o que fornecerá uma referência essencial para esse tipo de intervenção e também para o desenvolvimento de vacinas.

Escrito por Luiza Mugnol Ugarte