Estudo publicado no The Lancet aposta em imunossupressão para reduzir mortalidade da doença.
Enquanto a pandemia da COVID-19 já se instala na maioria dos países do mundo, médicos e cientistas seguem em busca de tratamentos que possam reduzir os efeitos e a mortalidade do novo coronavírus (SARS-CoV-2). Publicado recentemente na revista científica Lancet, um estudo realizado por pesquisadores ingleses sugere que a imunossupressão pode vir a ser um procedimento eficaz no tratamento de pacientes com graves manifestações da doença.
O estudo ressalta que a doença é mais fatal que a influenza, e que sua facilidade de contágio demanda agilidade na descoberta de tratamentos eficazes. Avaliando evidências de relatórios médicos, os pesquisadores notaram que o subgrupo de pacientes com COVID-19 grave tende a apresentar uma síndrome chamada de hipercitocinemia, ou “tempestade de citocinas”. As citocinas são substâncias secretadas naturalmente em nosso sangue para ativar respostas de nosso sistema imunológico. No caso da hipercitocinemia, há um desequilíbrio nessa reação, causando febre alta, náuseas acentuadas e inflamações potencialmente fatais.
Tendo como base estudos realizados com pacientes de Wuhan, na China, os pesquisadores ingleses notaram que umas das causas de mortalidade por SARS-CoV-2 pode ser a hiperinflamação viral e que, portanto, a identificação e tratamento desta reação em pacientes graves seria essencial para reduzir o número de fatalidades.
Entre as opções disponíveis para esse procedimento, estaria o uso de corticosteróides, potentes anti-inflamatórios; no entanto, como ocorre na maioria das doenças associadas à insuficiência respiratória (MERS e SARS), esses medicamentos podem exacerbar a lesão pulmonar ocasionada pela COVID-19. Essas informações levaram os cientistas a apostar em tratamentos de imunossupressão como um viável recurso terapêutico.
A imunossupressão é uma forma de reduzir a atividade imunológica, reação que pode ser provocada intencionalmente para evitar a rejeição de transplantes, por exemplo. O estudo também defende que a imunossupressão foi bem-sucedida em tratamentos de sepse – infecção grave e generalizada que é comum a pacientes de UTI –, mostrando sobrevida significativa em casos de hiperinflamação, sem aumento de complicações adversas.
A proposta dos pesquisadores é que todos os pacientes com COVID-19 grave sejam analisados quanto à hiperinflamação, reação facilmente identificada em exames laboratoriais, como a contagem decrescente de plaquetas. Assim, o subgrupo de pacientes identificado poderia ser tratado com as opções terapêuticas de imunossupressão, que não ofereceriam maiores riscos ao funcionamento respiratório e poderiam ser uma estratégia para a diminuição de óbitos durante a pandemia.
Escrito por Maria Eduarda Ledo de Abreu.